Espetacularização das festas juninas
Atualmente,
em grandes cidades como Betim, acontecem muitas festas juninas com quase nenhuma
devoção. Essas festas têm hoje o caráter de distração, fortalecimento dos
vínculos sociais (como é próprio de toda festa), arrecadação de recursos,
performance e espetáculo. Nem por isso, deixam de ser importantes festividades
no calendário de festas populares brasileiras; especialmente em tempos em que
os governos e suas agências (ONU, UNESCO, Banco Mundial) estimulam a chamada
economia criativa como um dos motores do sistema social e turistas se movem
como formigueiros para todas as partes do globo.
Mas de onde
vêm essas festas? Aqui, nossa opção é voltar no tempo o máximo possível, para
mostrar mudanças e permanências. Não é uma opção isenta de subjetividades e
escolhas, muito ao contrário.
Desde pelo
menos o período Neolítico, da chamada pré-história, quando a agricultura foi
“inventada” pelos nossos ancestrais, parecem ter havido celebrações ligadas às
estações do ano, para marcar o tempo correto das semeaduras e colheitas. É
difícil datar com precisão o Neolítico, a última idade da pedra, ou da pedra
polida, pois algumas sociedades entraram e superaram esse período antes que
outras. Porém, para a história oficial do ocidente, o Neolítico está entre 10
mil e 6 mil anos antes da era cristã.
Sabemos que
as celebrações ligadas aos momentos cruciais para a agricultura remontam a esse
período, pois há inumeráveis círculos de pedra espalhados por todo o planeta e
alinhados na terra como referências a respeito dos astros e com influência
direta nos ciclos agrícolas. Esses círculos de pedra são formados por
megalitos, ou grandes blocos de pedra, formando dolmens (colunas cobertas por
lajes de pedra) ou menires (apenas os blocos verticais), dispostos em círculos,
elipses ou arcos. Os blocos normalmente foram construídos ao lado de câmaras
funerárias e túmulos coletivos, em referência ao também ancestral culto aos
mortos.
O mais
famoso círculo de pedras desta natureza é Stonehenge, no Reino Unido, visitado
anualmente por milhares de turistas nos solstícios de inverno e de verão, num
momento em que as culturas europeias antigas são revalorizadas pelos esotéricos
e transformadas em mercadorias. Ali são realizados rituais atribuídos a essas
antigas culturas, conforme veremos a seguir.
Stonehenge ao nascer do sol no solstício.
Os círculos
megalíticos geram polêmicas entre os arqueólogos, seus principais estudiosos.
Para alguns, eram verdadeiros observatórios astronômicos voltados
principalmente para orientar a agricultura. Porém, para a maioria, é impossível
ignorar o aspecto ritual, religioso desses monumentos. Inegável é a incrível
precisão matemática, astronômica e de engenharia dos círculos megalíticos.
Alguns deles, na Europa, antecedem em milênios as pirâmides egípcias. As
sociedades neolíticas retiravam e transportavam blocos de pedra de várias
toneladas por dezenas de quilômetros até os locais apropriados para a
construção dos monumentos. Embora os melhores registros de sua existência
estejam na Europa, onde existiu uma verdadeira cultura megalítica, há
importantes monumentos na África (Senegal e Gâmbia) e até no Brasil, em
Calçoene, município do Amapá.
O círculo de
pedras de Calçoene, Amapá, foi descoberto em 1950 e começou a ser estudado
intensamente em 2006. Data do início da era cristã e foi feito em granito,
junto a túmulos, pelos povos indígenas locais. Como o Amapá está acima da linha
do equador, a pedra principal desse monumento está posicionada em alusão ao
solstício de inverno do hemisfério norte, de 21 de dezembro. Seu entorno está
protegido através do Parque Arqueológico do Solstício.
Os
solstícios (21 ou 22 de junho e 21 ou 22 de dezembro) são os dias do ano em que
o sol se encontra à maior distância angular em relação à linha do equador. Isso
implica em que os dias são muito longos e as noites curtíssimas, ou o contrário, dependendo do hemisfério e por causa da inclinação dos pólos da Terra. Nas regiões
próximas ao círculo polar ártico, chega a não haver noite; o sol brilha praticamente
24 horas no horizonte.
Representação gráfica dos solstícios
Exatamente
por isso, os povos antigos, que tinham o sol como um de seus deuses, pois eram
politeístas, escolhiam essas datas para cultuar essa divindade. Acredita-se que
os círculos de pedra eram lugar de culto, pois, em geral, a pedra principal de
cada um desses monumentos está posicionada de forma a permitir entrever o
nascer do sol no solstício e a não projetar sombra quando o sol do solstício
está a pino.
Ainda não
sabemos como eram os cultos do solstício no período neolítico, mas a
arqueologia está trabalhando atentamente nos vestígios humanos encontrados
nesses locais. Essas sociedades não tinham escrita e portanto dependemos de
seus restos mortais e vestígios materiais para melhor conhecer suas culturas.
Porém, da antiguidade,
como tradicionalmente chamamos o período que vem de 5 mil anos antes da era
cristã até o primeiro século desta era, os registros são mais abundantes:
tradição oral, cantigas, imagens, documentos escritos, etc. Em relação aos
cultos dos solstícios, sabemos mais das culturas europeias, como os celtas, os
eslavos, os germânicos, etc. Isso se deve à supremacia da Europa nas Idades
Moderna e Contemporânea, quando intensificou o estudo de sua própria trajetória
histórica, com recursos também expropriados das colônias...
A origem das
festas juninas como as conhecemos hoje está no solstício de verão, que acontece
entre 21 e 22 de junho de cada ano, no hemisfério norte (no hemisfério sul,
onde estamos, trata-se do solstício de inverno). Em toda a Europa, as festas
são conhecidas como midsummer (meio do verão ou equivalentes nas diversas
línguas). Os povos antigos, inclusive os romanos, que cultuavam o deus Summanus
(sol, verão), agradeciam pelas colheitas nessas celebrações, assim como pediam
aos deuses a fertilidade da terra para o próximo ano. No Egito, Rá; entre os celtas, Lugh; Tonatiuh e Huitzilopochtli entre os astecas; Helios e Apolo entre os gregos; Liza entre os Fons da África ocidental. Dentre tantos outros. Na atual Finlândia, o
deus cultuado era Ukko. No Japão, a religião oficial, o xintoísmo, homenageia a deusa do sol,
Amaterasu.
Além de
Calçoene, grata surpresa para nós, brasileiros, há outros registros de festas
juninas ao sol e ao solstício nas Américas. Peru, Equador e Colômbia (incas)
faziam o Inti Raymi, festa de adoração ao deus sol Inti. A antiga festa entrou
em decadência após a colonização espanhola e foi retomada com grande força no
século XX, no compasso do estímulo ao turismo.
Festa do sol
ou festa de junho, no Peru.
Ao que
parece, o elemento comum a todas as celebrações do solstício é a fogueira,
presente também em outras festas populares ancestrais. O fogo, além de alusão
ao sol, representa a ligação entre a terra e os céus, pois nela nasce e nele se
extingue. Também faz referência ao claro/escuro e ao quente/frio, sendo visto como capaz de espantar os maus espíritos. O modo de
construir a fogueira varia de lugar para lugar, sendo enorme a criatividade
nesse aspecto.
No Brasil, o formato das fogueiras pode variar de acordo com o santo homenageado e os hábitos regionais.
Hoje, são
famosas e frequentadas as fogueiras de Beltane, local sagrado dos antigos
celtas e hoje revalorizado pelo renascimento da religião Wicca, popularmente
conhecida como religião das bruxas ou da magia. Lembre-se como Harry Potter e
outras sagas de bruxos fazem sucesso. O festival de Beltane é uma festa da
passagem da primavera ao verão na Europa (1º de maio).
Outro
elemento de permanência nas festas juninas é a árvore (mais presente no
solstício de inverno do hemisfério norte, a árvore sempre verde, que conhecemos
como árvore de natal). A árvore de junho vem da árvore de maio, do início do verão europeu.
Muitos povos europeus homenageavam o Homem-Verde, símbolo folhoso do ressurgimento da natureza (orixá Oxossi e equivalentes em culturas africanas).
Nas festas juninas, a árvore sobrevive como mastro, símbolo da dimensão masculina de força e fertilidade. Ela também é um símbolo da ligação entre a terra e os céus (raízes até as folhas). A tradição do mastro no solstício tem como origem mais antiga registrada a celebração junina dos povos germânicos.
Muitos povos europeus homenageavam o Homem-Verde, símbolo folhoso do ressurgimento da natureza (orixá Oxossi e equivalentes em culturas africanas).
Nas festas juninas, a árvore sobrevive como mastro, símbolo da dimensão masculina de força e fertilidade. Ela também é um símbolo da ligação entre a terra e os céus (raízes até as folhas). A tradição do mastro no solstício tem como origem mais antiga registrada a celebração junina dos povos germânicos.
Outro
elemento permanente em festas juninas por todo o mundo é a água, que representa purificação e se manifesta nos pedidos de chuvas fartas, nos respingos, rios e poços. Entre os celtas as festas juninas também se chamavam Litha, em
alusão à deusa das águas.
A dança de fitas em torno do mastro
ancestral vem de influências francesas e portuguesas. Tem a ver com os
festivais de primavera-verão da antiguidade. Originalmente, no momento de
levantamento do mastro, eram jogadas sobre ele flores, criando um efeito de
gotas de chuva (primavera + verão). Este último hábito ainda está presente nas
tradicionais festas juninas da Suécia, que duram de 20 a 26 de junho e são a
principal festa nacional.
Dança das fitas
Da Alemanha vem o registro mais
antigo conhecido de pular fogueiras (1650), queimando nela também flores e
ervas diversas.
Em alguns países europeus,
acredita-se que as ervas medicinais colhidas no solstício têm mais poder de
cura. Também por isso, em Portugal, as fogueiras eram feitas com rosmaninho,
espécie arbustiva aparentada da alfazema e do alecrim. No norte da Europa, eram
colocados ramos de bétula na entrada das moradias (hábito de combater más
energias de quem entra).
Os enfeites de papel, os balões de ar
quente e os fogos de artifício vêm da Ásia, principalmente da China, onde cedo
se manipulou a pólvora. Os balões e fogos foram utilizados para anunciar o início da festa e vêm sendo combatidos por causa dos
riscos de acidentes, mas ainda há tradições radicais, como as batalhas de espadas
juninas na cidade de Cruz das Almas, na Bahia.
As espadas
são segmentos de bambu cheios de pólvora e protegidos por cordões de sisal.
Quando incendiadas, elas produzem o efeito de bainha (bambu) e lâmina (fogo) da
espada. É uma tradição e um jogo masculino, verdadeira batalha com campeões. A
prática é proibida, mas os cidadãos de Cruz das Almas reivindicam que seja
protegida como patrimônio cultural.
Os festejos do solstício são
considerados ideais para mulheres jovens que desejam se casar e/ou ter filhos.
Há várias tradições nesse sentido, algumas sobreviventes até hoje. Entre as
tradições europeias há a de se curvar nua diante de um poço na noite do
solstício, para ver a imagem do futuro marido. Também usar guirlandas de flores
e depois jogá-las na água corrente dos rios, para chamar marido; ou colocar
sete flores diferentes sob o travesseiro para sonhar com o futuro marido.
No oeste da Noruega ainda sobrevive o hábito de arranjar, simular ou encenar casamentos até mesmo entre crianças, firmando antecipadamente compromissos matrimoniais e compadrios/comadrios. Essa tradição sobrevive nos casamentos na roça, das festas juninas do Brasil. Havia também um motivo pragmático para os casamentos e batismos junto às fogueiras juninas: não havia padres para oficiar todas as celebrações, que eram então feitas pelos leigos nesse momento sagrado e festivo.
No oeste da Noruega ainda sobrevive o hábito de arranjar, simular ou encenar casamentos até mesmo entre crianças, firmando antecipadamente compromissos matrimoniais e compadrios/comadrios. Essa tradição sobrevive nos casamentos na roça, das festas juninas do Brasil. Havia também um motivo pragmático para os casamentos e batismos junto às fogueiras juninas: não havia padres para oficiar todas as celebrações, que eram então feitas pelos leigos nesse momento sagrado e festivo.
Cria-se em algumas regiões da Europa
que na noite de solstício apareciam com abundância fogos-fátuos
(línguas-de-fogo, estrelas cadentes) que indicariam os locais onde estavam escondidos
tesouros. Isso demonstra a importância do fogo nessas antigas sociedades. No
interior do Brasil há crenças semelhantes a essas ainda hoje.
Nem todas as festas juninas trazem o
hábito de vestir fantasias. A roupa caipira é uma invenção portuguesa e
brasileira, ligada à indumentária do campesinato. Na Polônia, são usadas fantasias de
piratas!
As mais concorridas festas juninas do mundo estão ao norte da Europa, onde a população deixa as cidades e participa dos festejos no campo. Na Rússia, Bielorrússia e Ucrânia, a população costuma festejar de 21 de junho a 06 de julho, verdadeiras férias rituais. Ali temos a curiosa crença de que, na noite do solstício, floresce a samambaia. Se a pessoa encontrar uma dessas flores, será para sempre rica e feliz. Mas a samambaia não floresce...
As mais concorridas festas juninas do mundo estão ao norte da Europa, onde a população deixa as cidades e participa dos festejos no campo. Na Rússia, Bielorrússia e Ucrânia, a população costuma festejar de 21 de junho a 06 de julho, verdadeiras férias rituais. Ali temos a curiosa crença de que, na noite do solstício, floresce a samambaia. Se a pessoa encontrar uma dessas flores, será para sempre rica e feliz. Mas a samambaia não floresce...
No Brasil, herdamos uma crença semelhante, sobre o
trevo-de-quatro-folhas.
A cristianização
Conforme o cristianismo se expandiu pela Europa, antes e depois da queda do império romano, as festas do solstício e outras festas populares foram proibidas pela Igreja Católica. Santo Elígio, que viveu no século VII, escreveu: "Nenhum cristão deve participar da festa de São João ou da solenidade de qualquer outro santo, ou realizar ritos do solstício, ou dançar ou pular ou entoar cantos diabólicos". Contudo, diante da persistência das festas, a Igreja as cristianizou e assimilou diversos dos seus elementos.
São João cedo foi associado ao solstício, pois a tradição conta que nasceu seis meses antes de Jesus. São João é o único santo de quem se celebra a natividade, juntamente com Jesus. Os demais santos têm celebrada a sua morte.
Nas festas juninas cristãs antigas, havia o batismo de São João - sua imagem levada aos rios e depois o batismo dos fieis.
O dia 24 de junho era o solstício no calendário juliano, adotado antes do gregoriano. Sua associação a São João também remete a uma crença sobre as gravidezes de Maria e Santa Izabel. Segundo essa crença, Maria teria visitado Izabel durante sua gravidez, na cidade de Ain Karin, e ambas teriam combinado que Izabel acenderia uma fogueira quando seu rebento nascesse. Assim, cristianizou-se o solstício e a fogueira.
Em Portugal, que mais influenciou as festas juninas brasileiras, outros santos populares foram associados a junho, como Santo Antônio e São João.
Santo Antônio é santo para tudo, padroeiro dos soldados e comerciantes, além de considerado casamenteiro. Sua festa contém a tradição do pãozinho de Santo Antônio.
A festa de São Pedro teve menor penetração no Brasil. Considerado o protetor da viúvas e dos pescadores, parece ter dado conteúdo cristão à tradição do pau-de-sebo, por ser o detentor das chaves do céu e responsável pelas chuvas.
O mastro de maio passou a receber as bandeiras dos santos juninos em seu topo, muitas vezes em caixas que os protegiam das intempéries. Desenvolveu-se também a tradição de lavar as bandeiras dos santos e pôr para secar, seus respingos purificando e abençoando os fieis. Assim se cristianizou a água das antigas festas.
O levantamento do mastro se dá tradicionalmente na véspera do dia de São João e o responsável pelas bandeiras é o capitão.
As bandeirolas derivam das bandeiras dos santos e antes traziam suas imagens sagradas; também remetem aos respingos sacralizados que advêm das bandeiras principais.
Festas juninas no Brasil
Além dos elementos tradicionais das festas juninas advindos da antiguidade e especialmente da idade média europeia, no Brasil essas festas assimilaram outros elementos.
Sua representação como uma festa "caipira" foi criada em São Paulo e contém uma certa estereotipia do homem do campo. O arraial representa os povoados do interior, onde se reuniam as famílias da redondeza para celebrar as festas.
A quadrilha começa como uma dança campesina europeia no século 13. No século 18, foi apropriada pelas elites francesas como contredanse, dança de salão feita por quatro pares, daí quadrille. Chegou ao Brasil através das elites que desejavam imitar os hábitos da alta cultura europeia. Fundiu-se com outras danças, multiplicou o número de pares, mas manteve as palavras de comando.
As festas juninas lusas tiveram grande aceitação no Brasil pelos povos indígenas e africanos/afrodescendentes por causa da universalidade das festas da colheita.
Com o crescimento das religiões evangélicas, as festas juninas vêm sendo por elas assimiladas também, porém sem o culto aos santos, considerados pagãos.
A secularização e a espetacularização da festa
Recentemente, em todo o mundo, as festas juninas se tornam espetáculos, como acontece em diversas cidades brasileiras e em outras regiões do mundo, como a Europa e os Andes. Elas se tornaram atrativos turísticos e receberam grande glamour. Constituiu-se um público espectador que não necessariamente participa da festa. Com isso, a festa junina pode ser considerada hoje uma mercadoria, perdendo em alguns casos sua sacralidade.
Uma curiosidade
Os nomes das notas musicais têm origem em um hino a São João Batista, música coral medieval, cuja melodia foi composta por Guido d'Arezzo, de forma que cada verso subia uma nota na escala. Com isso, d'Arezzo criou o sistema de solmização, que cria as notas musicais. A letra é de Paulo Diacono:
Ut quant laxis
Ressonare fibris
Mira gestorum
Famuli tuorum
Solve polluti
Labii reatum
Sancte Johanes
(Jota tem som de I)
"Para que teus servos possam cantar as maravilhas dos teus atos admiráveis, absolve as faltas dos seus lábios impuros".
Ut foi substituída por Dó, por sugestão de Giovanni Batista Doni, que achava a sílaba incômoda para o solfejo.
A cristianização
Conforme o cristianismo se expandiu pela Europa, antes e depois da queda do império romano, as festas do solstício e outras festas populares foram proibidas pela Igreja Católica. Santo Elígio, que viveu no século VII, escreveu: "Nenhum cristão deve participar da festa de São João ou da solenidade de qualquer outro santo, ou realizar ritos do solstício, ou dançar ou pular ou entoar cantos diabólicos". Contudo, diante da persistência das festas, a Igreja as cristianizou e assimilou diversos dos seus elementos.
São João cedo foi associado ao solstício, pois a tradição conta que nasceu seis meses antes de Jesus. São João é o único santo de quem se celebra a natividade, juntamente com Jesus. Os demais santos têm celebrada a sua morte.
Nas festas juninas cristãs antigas, havia o batismo de São João - sua imagem levada aos rios e depois o batismo dos fieis.
O dia 24 de junho era o solstício no calendário juliano, adotado antes do gregoriano. Sua associação a São João também remete a uma crença sobre as gravidezes de Maria e Santa Izabel. Segundo essa crença, Maria teria visitado Izabel durante sua gravidez, na cidade de Ain Karin, e ambas teriam combinado que Izabel acenderia uma fogueira quando seu rebento nascesse. Assim, cristianizou-se o solstício e a fogueira.
Em Portugal, que mais influenciou as festas juninas brasileiras, outros santos populares foram associados a junho, como Santo Antônio e São João.
Santo Antônio é santo para tudo, padroeiro dos soldados e comerciantes, além de considerado casamenteiro. Sua festa contém a tradição do pãozinho de Santo Antônio.
A festa de São Pedro teve menor penetração no Brasil. Considerado o protetor da viúvas e dos pescadores, parece ter dado conteúdo cristão à tradição do pau-de-sebo, por ser o detentor das chaves do céu e responsável pelas chuvas.
O mastro de maio passou a receber as bandeiras dos santos juninos em seu topo, muitas vezes em caixas que os protegiam das intempéries. Desenvolveu-se também a tradição de lavar as bandeiras dos santos e pôr para secar, seus respingos purificando e abençoando os fieis. Assim se cristianizou a água das antigas festas.
O levantamento do mastro se dá tradicionalmente na véspera do dia de São João e o responsável pelas bandeiras é o capitão.
As bandeirolas derivam das bandeiras dos santos e antes traziam suas imagens sagradas; também remetem aos respingos sacralizados que advêm das bandeiras principais.
Festas juninas no Brasil
Além dos elementos tradicionais das festas juninas advindos da antiguidade e especialmente da idade média europeia, no Brasil essas festas assimilaram outros elementos.
Sua representação como uma festa "caipira" foi criada em São Paulo e contém uma certa estereotipia do homem do campo. O arraial representa os povoados do interior, onde se reuniam as famílias da redondeza para celebrar as festas.
A quadrilha começa como uma dança campesina europeia no século 13. No século 18, foi apropriada pelas elites francesas como contredanse, dança de salão feita por quatro pares, daí quadrille. Chegou ao Brasil através das elites que desejavam imitar os hábitos da alta cultura europeia. Fundiu-se com outras danças, multiplicou o número de pares, mas manteve as palavras de comando.
As festas juninas lusas tiveram grande aceitação no Brasil pelos povos indígenas e africanos/afrodescendentes por causa da universalidade das festas da colheita.
Com o crescimento das religiões evangélicas, as festas juninas vêm sendo por elas assimiladas também, porém sem o culto aos santos, considerados pagãos.
A secularização e a espetacularização da festa
Recentemente, em todo o mundo, as festas juninas se tornam espetáculos, como acontece em diversas cidades brasileiras e em outras regiões do mundo, como a Europa e os Andes. Elas se tornaram atrativos turísticos e receberam grande glamour. Constituiu-se um público espectador que não necessariamente participa da festa. Com isso, a festa junina pode ser considerada hoje uma mercadoria, perdendo em alguns casos sua sacralidade.
Uma curiosidade
Os nomes das notas musicais têm origem em um hino a São João Batista, música coral medieval, cuja melodia foi composta por Guido d'Arezzo, de forma que cada verso subia uma nota na escala. Com isso, d'Arezzo criou o sistema de solmização, que cria as notas musicais. A letra é de Paulo Diacono:
Ut quant laxis
Ressonare fibris
Mira gestorum
Famuli tuorum
Solve polluti
Labii reatum
Sancte Johanes
(Jota tem som de I)
"Para que teus servos possam cantar as maravilhas dos teus atos admiráveis, absolve as faltas dos seus lábios impuros".
Ut foi substituída por Dó, por sugestão de Giovanni Batista Doni, que achava a sílaba incômoda para o solfejo.
(Este texto é fruto de rápidas pesquisas na internet, sem maiores aprofundamentos, especialmente na Wikipedia. Contém também as contribuições do professor e pedagogo Carlos Moraes. Seus fins são didáticos. Resulta principalmente da preocupação com a folclorização das festas juninas em escolas, pois às escolas cabe qualificar o conhecimento).
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