Escola burocrática
Written By Ana Claudia Gomes on quinta-feira, 3 de maio de 2018 | 04:19
Tem umas semanas que acompanho e ouço depoimentos de colegas sobre provas, tabelas, sistemas, correções. Lembro meus estudos sobre avaliação educacional e as profecias - na verdade presentistas - dos analistas europeus dos anos 1980-90. Diziam eles que, no mundo abrangido pelas agências multilaterais, generalizar-se-ia uma grande onda de produção de números, para acalmar a sociedade sobre os fracassos da escola como agência de instrução. Que exames seriam induzidos por certos critérios e isso estaria articulado ao financiamento público nos países.
Taí. Durante meses a cada ano letivo, as pessoas só são lembradas por suas provas em branco. Os professores ficam atolados em papeis em seus horários de planejamento, e o tempo industrialmente fragmentado não permite reflexão sobre os dados, com defendem os filósofos, sociólogos e apaixonados por educação.
De forma que, fracassada como agência de instrução, a escola se afirma como agência de produção estatística, como posto avançado da burocracia. E os dados não são exatos, como não há formas perfeitas no universo. Eles são condicionados pelas perguntas humanas e suas intenções - terceiras ou quartas, lá sei.
O que sei é falar como professora, que isso não é bom para o público escolar. Apenas os submete à desfaçatez dos julgamentos sem contexto, do afastamento entre a escola e a vida, que já vem de remotos tempos, do trabalho para nada.
Quer isso dizer que não se aprende na escola? Aprende-se, sim. Pessoas sensíveis, haverá sempre. Professores que cultivam a dúvida. Colegas que ensinam saberes do mundo e da escola nas aulas, nas bagunças, nos intervalos, nas amizades.
E como mais um "privilégio" para os funcionários da educação, defendo a instituição de um tempo estatístico remunerado. Para ser cumprido nas madrugadas.
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