Eu e minha função de professora da adolescência estamos beligerantes desde sempre. Por estas razões que seria óbvio repetir, já que ditas todos os dias, e com tão poucos efeitos práticos. Basta dizer que eu não simpatizo com frases do tipo todo profissional um dia passou por um professor. Porque muitas gentes há, e gentes com amplas almas, que jamais passaram por um professor.
O trabalho, porém, é como a guerra, na qual o soldado, para além dos petardos, também vê uma ou outra estrela. Ou esculpe na trincheira o singelo nome da amada.Uma época, resolvi falar de reggae para afrodescendentes. Foi um trampo, pois o nosso mundo é novamente tão tribal... Quem é do funk não quer o reggae.
Insisti. Fiz valer o poder da nota. Escutei uns impropérios que eu bem merecia.
Uma minha garota, pois já não se deve dizer hoje em dia pupila, ou discípula, ou aluna, permanecia hermética. Elevava a voz, interrompia minha frase ao meio. Eu olhava sua roupa puída, a pobreza estampada em sua pele, e queria entender o porquê de ela não desejar ouvir uma canção de libertação. Uma canção que eu julgava de libertação.
A unidade de estudos foi rochosa. Eu várias vezes desisti e retomei. As leituras foram inúteis. Tais como os discursos a partir da cátedra. Entendi que só precisava chegar ao final. O mais rápido possível.
O final era o clipe. O videoclipe. Na ralação de ligar o projetor bem no meio do caos. Então, rolou a primeira vez. Muitos raios verdes, vermelhos, amarelos. Umas tsunamis foram baixando a crista e balouçando como leves ondas à brisa. Senti que a letra, a melodia e a imagem em movimento pareciam receita de bolo de vó. Harmonia.
Passei junto à minha garota bem quando o Ponto de Equilíbrio fazia soar: a justiça de Jah chegará a todo o povo pobre da favela-a. E penso ter visto uma lágrima polida quase a desabar de seu cílio. Uma grande lágrima. Um brilho indizível no olhar.
A minha garota não ficou menos rebelde por isso. Ela não deixou de dizer tudo certo por linhas tortas. Mas nos anais da minha guerra, será para sempre a menina de Jah. Aquela que chama de Deus a esperança que precisa ter nos homens.
Viva a menina de Jah!bj
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