A escrevinhadora morava num quartinho apertado. Uma pequena cama, colchão emaciado, uma mesa poeirenta, caixas onde se empilhavam livros, sapatos, enfeites de mesa. A minúscula janela mal deixava entrar ar. Mas era um portal de pernilongos. Um cinzeiro de ex-fumante rolava daqui pra lá... Mas trazia a imagem de Che, como se fosse um objeto da pop art. Não podia ser descartado. O rabicho do ferro de passar promovia repetidos tropeços. Bolsas, peças de roupa pelo chão. E ela não queria chá, nem café, nem máquina de lavar. Não queria banho após exaustiva jornada. Apenas libertar a imaginação daquele cubículo que criara à maneira Dostoiévsky. Seu exílio. Lugar de acachapar a inteligência, de desfolhar a sensibilidade.
Uma outra vez, a escrevinhadora fez sucesso. A jornalista sugeriu, para seu pálido susto: podemos fazer uma foto em seu escritório?
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